domingo, 30 de novembro de 2014

"A LEI DE DEUS AOS ROMANOS" - I


O tema central da epístola aos romanos é a pecaminosidade generalizada da humanidade e a abrangência universal da graça de Deus, sendo esta o único meio pelo qual os pecadores obtêm o perdão e são restaurados à perfeição e a santidade. A graça é obtida unicamente pela fé em Jesus Cristo, que morreu, ressuscitou e vive eternamente para restabelecer o pecador arrependido aos propósitos originais instituídos na criação(a).1

Quando Paulo escreveu aos cristãos romanos, em sua mente sobrevinha os problemas que surgiram em seus conflitos com os judaizantes(b), apesar disso, ele centralizou sua mensagem no plano de Deus para combater o pecado. Pode-se afirmar ainda, que os versos de Romanos 1:16-17 apresentam o fundamento desta mensagem, sendo os demais uma dissertação sobre eles. Ao longo de seu discurso, Paulo demonstra que judeus e gentios pecaram e continuam afastados de Deus (Romanos 3:23-24), e que não há nenhuma razão para este afastamento, pois todos sem exceção tiveram a oportunidade de conhecer a Deus e Seus propósitos em algum momento de suas vidas (Romanos 1:18-21).

Portanto, todos estariam com devida justiça sob a condenação de morte eterna se não fosse a graça de Deus, pois não existe ninguém capaz de se libertar por si mesmo de sua condição pecaminosa; ninguém possui a vontade natural de obedecer a Deus (Romanos 8:5-9 cf. Gênesis 6:5-6, Romanos 7:15-18). Paulo destaca ainda que a tentativa legalista de seguir a lei resulta em fracasso, além de evidenciar arrogância ao buscar "justiça" própria sem o reconhecimento da debilidade e necessidade de um Salvador, Jesus Cristo (Romanos 9:30-33 cf. Isaías 8:14). Ao pecador, exige-se que exerça a fé que: o ajude a obter o perdão de seu passado pecaminoso e, o habilite a receber ajuda divina para desenvolver uma vida de retidão.

A carta aos romanos responde a pergunta dos séculos: "Como poderia o homem justificar-se diante de Deus?" (Jó 9:2 BJ). Ninguém pode julgar-se justo caso não se justifique com o Criador (Isaías 1:18; Isaías 43:25-26). E Paulo apresenta a maneira como Deus guia o homem na justificação através de Cristo; demonstrando ainda, paralelamente, a relação harmoniosa entre a lei de Deus e Sua graça (Romanos 3:31 cf. Romanos 2:13; Romanos 6:15). Deste modo, analisaremos alguns versos dessa carta dentro do contexto em que eles estão inseridos, diferentemente daqueles que os avaliam de forma isolada com o objetivo de manter a crença anomista de que lei de Deus foi anulada pela graça.

Romanos 7:6:
"Mas agora, morrendo para aquilo que antes nos prendia, fomos libertados da lei, para que sirvamos conforme o novo modo do Espírito, e não segundo a velha forma da lei escrita." (NVI).
A expressão "libertados da lei" refere-se a absolvição da penalidade pela transgressão da própria lei.2 Este mesmo ensino é encontrado em Romanos 6:14-15(c). Em ambos os casos, declara-se que o pecador arrependido que abandonou a sua conduta pecaminosa ("aquilo que antes o prendia", Romanos 7:5; Romanos 6:12 cf. Ezequiel 33:15-16), ao dirigir-se a Cristo, não está sujeito a condenação por ter transgredido a lei de Deus (Romanos 6:23 cf. I João 3:4), pois a graça concedeu-lhe o perdão (Romanos 5:16; Miquéias 7:18-20; Hebreus 8:12). Entretanto, se o pecador beneficiado retornar a transgredir a lei, ela novamente mostrará o pecado cometido e o condenará. A lei exercerá o seu direito de cobrar justiça. O pecador estará mais uma vez cativo "àquilo que antes o prendia" (o seu pecado), e consequentemente sujeito a devida punição, a morte eterna. Ele novamente terá que recorrer a graça de Deus e ao auxílio do Espírito Santo caso deseje livrar-se novamente dessa situação (Romanos 6:22-23).

Romanos capítulo 7 descreve a luta contra as tendências maléficas que habita a mente humana e, a experiência da pessoa regenerada pelo Espírito Santo. Este capítulo demonstra a batalha incessante entre a velha e nova naturezas do homem (Romanos 7:15-25; II Coríntios 5:17). Muitos reconhecem a condição pecaminosa em que estão envolvidos, todavia, escolhem não passar pelo processo de conversão e mantêm a vida de pecados. Paulo, no capítulo 7, esclarece também a atuação da lei e as consequências de transgredi-la:
"Que diremos então? A lei é pecado? De maneira nenhuma! De fato, eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a lei não dissesse: 'Não cobiçarás'. Mas o pecado, aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento, produziu em mim todo tipo de desejo cobiçoso. Pois, sem a lei, o pecado está morto. Antes eu vivia sem a lei, mas quando o mandamento veio, o pecado reviveu, e eu morri. Descobri que o próprio mandamento, destinado a produzir vida, na verdade produziu morte.
Pois o pecado, aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento, enganou-me e por meio do mandamento me matou. De fato a lei é santa, e o mandamento é santo, justo e bom. E então, o que é bom se tornou em morte para mim? De maneira nenhuma! Mas, para que o pecado se mostrasse como pecado, ele produziu morte em mim por meio do que era bom, de modo que por meio do mandamento ele se mostrasse extremamente pecaminoso. Sabemos que a lei é espiritual; eu, contudo, não o sou, pois fui vendido como escravo ao pecado." (Romanos 7:7-14 NVI).
Embora a lei seja espiritual (verso 14), o homem envolvido com seus pecados não se considera subordinado à ela. O homem transgride a lei porque a sua natureza é carnal, e a situação se agrava quando ele ignora as orientações do Espírito Santo:
"Quem vive segundo a carne tem a mente voltada para o que a carne deseja; mas quem vive de acordo com o Espírito, tem a mente voltada para o que o Espírito deseja. A mentalidade da carne é morte, mas a mentalidade do Espírito é vida e paz; a mentalidade da carne é inimiga de Deus porque não se submete à lei de Deus, nem pode fazê-lo. Quem é dominado pela carne não pode agradar a Deus." (Romanos 8:5-8 NVI).3
Enquanto a lei de Deus diz: não matarás; não adulterarás; não dirás falso testemunho; lembra-te do dia de sábado, para o santificar; não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão; e etc. (Êxodo 20:3-17), o homem carnal seduzido por seus desejos pecaminosos infringe os mandamentos desta lei. No entanto, quando ele se submete a orientação do Espírito Santo, ele deixa de transgredi-la; há o abandono da antiga vida de pecado e, a partir de então, o envolvimento com os propósitos de Deus. Assim, ele estará livre da condenação da lei ("libertado" da lei) para que sirva conforme o Espírito (Romanos 7:6).

Romanos 9:30-33:
"Que diremos, então? Os gentios, que não buscavam justiça, a obtiveram, uma justiça que vem da fé; mas Israel, que buscava uma lei que trouxesse justiça, não a alcançou. Por que não? Porque não a buscava pela fé, mas como se fosse por obras. Eles tropeçaram na 'Pedra de tropeço'. Como está escrito: 'Eis que ponho em Sião uma Pedra de tropeço e uma rocha que faz cair; e aquele que nEla confia jamais será envergonhado'." (NVI).
Confiante em mérito próprio, o povo de Israel buscava satisfazer a lei, mas não obteve sucesso. A razão desse fracasso é que a lei exige observância perfeita de seus preceitos e a natureza pecaminosa do homem não possui condição para isso. Os judeus tinham depositado em si mesmos a capacidade para satisfazer a justiça exigida pela lei (Romanos 10:1-3). Eles pretendiam ser justos confiando nas obras de suas mãos, e isso os conduziu a agir apenas por formalidade; perderam de vista a real justiça defendida pela lei quando negligenciaram a fé que os conduziriam à ela. Todavia, deve-se ter em mente que, embora a justiça seja obtida pela fé, esta não anula a lei:
"Anulamos então a lei pela fé? De maneira nenhuma! Ao contrário, confirmamos a lei." (Romanos 3:31 RA). "Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados." (Romanos 2:13 RA).
"De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo? (...) a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta. Mas alguém dirá: 'Você tem fé; eu tenho obras.' Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras. (...) Você pode ver que tanto a fé como as obras estavam atuando juntas, e a fé foi aperfeiçoada pelas obras. (...) Vejam que uma pessoa é justificada por obras, e não apenas pela fé." (Tiago 2:14-24 NVI).

"Fé e obras" sempre estiveram juntas complementando-se (Tiago 2:22 cf. Hebreus 11:7-8; Hebreus 11:17-18). Então, aquele que tenta justificar-se meramente por obras, tropeçará, cairá e se ofenderá (I Pedro 2:1-8). Cristo veio para ensinar e conceder a justiça que procede de Deus, a qual deve ser aceita pela fé (Romanos 1:17). Os israelitas que procuravam outra forma de justiça escandalizaram-se com Cristo e Sua mensagem (Mateus 15:12-14 cf. Isaías 8:14-16). Eles estavam tão apegados no conceito deturpado de que a verdadeira justiça podia ser obtida unicamente por meio de suas obras que, abertamente, se opuseram contra Jesus e finalmente O assassinaram (João 6:41-66; Marcos 11:15-18).

A culpa não era da "Pedra" (Jesus Cristo), mas da atitude daqueles que interpretaram erroneamente as Escrituras; cegos espiritualmente por si mesmos, eles rejeitaram os ensinos que conduziam a Jesus (Isaías 53:1-3 cf. João 5:39). Cristo crucificado era um tropeço para os judeus e loucura para os gentios, mas era poder e sabedoria de Deus para os que O aceitavam (I Coríntios 1:22-25). Jesus é Pedra de tropeço para os soberbos e desobedientes, mas, Pedra preciosa para os que guardam a lei objetivando justiça baseada na fé (Apocalipse 14:12 cf. I João 2:1-7, I João 5:1-4).

Somente pela fé em Jesus pode o homem atingir verdadeiramente as exigências que a lei de Deus requer. Os judeus exaltavam a lei e não exerciam a fé em Cristo, e hoje, inversamente, os cristãos dizem que exercem fé em Cristo enquanto anulam de suas vidas a lei praticada e ensinada por Ele.4 E, nos "bastidores", está Satanás, aplaudindo judeus e gentios que aceitam seus enganos e diretamente lhe auxilia a promover a separação entre "fé e obras", "graça e lei" (Apocalipse 12:17 cf. Apocalipse 14:12).

Romanos 10:4:
"Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê." (RA).
A palavra "fim" utilizada neste verso provém do substantivo grego "telos", que apresenta o significado de: propósito, objetivo, finalidade, meta. No caso em questão, ela não é empregada no sentido de: "cessar", "terminar" ou "abolir". A aplicação de "telos" indicando desígnio ou intenção é observada também em I Pedro 1:9:
"Obtendo o fim [telos] da vossa fé: a salvação da vossa alma." (RA).
"Pois que alcançais o fim [telos] da vossa fé, a saber, a salvação das vossas almas." (BJ).
"Pois vocês estão alcançando o alvo [telos] da sua fé, a salvação das suas almas." (NVI).
Obviamente que a salvação não anula a fé. Pedro demonstrou que a fé tem a finalidade (objetivo, intuito) de alcançar a salvação, assim como Paulo ensinou que a lei tem a finalidade de nos conduzir a Cristo para que possamos obter o perdão dos pecados, isto é, obter a graça através da fé (cf. Gálatas 3:24). Em Romanos 10:4, Paulo não afirma que a lei findou, pois ele mesmo disse que a fé em Cristo e a graça de Deus não invalidam a lei (Romanos 3:31; Romanos 6:14-15). Outro exemplo do uso da palavra "fim" (telos) com o sentido de propósito (intenção, objetivo), encontra-se em Romanos 6:22: "Mas agora que vocês foram libertados do pecado e se tornaram escravos de Deus, o fruto que colhem leva à santidade, e o seu fim [telos] é a vida eterna." (NVI).

Romanos 14:5:
"Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente." (RA).
Este verso é usado de maneira indevida para confrontar a lei de Deus através do quarto mandamento (Lucas 16:17 cf. Tiago 2:10-12); por ele, comumente se apresenta a alegação de que não existe importância na guarda sabática (Êxodo 20:8-11; Gênesis 2:1-3 cf. Hebreus 4:9-10), ou, que não há necessidade de reservar o sétimo dia da semana exclusivamente para os desígnios de Deus (Isaías 56:2; Isaías 58:13-14 cf. Atos 16:13).
 "Fé e obras" sempre estiveram juntas complementando-se (Tiago 2:22 cf. Hebreus 11:7-8; Hebreus 11:17-18). Então, aquele que tenta justificar-se meramente por obras, tropeçará, cairá e se ofenderá (I Pedro 2:1-8). Cristo veio para ensinar e conceder a justiça que procede de Deus, a qual deve ser aceita pela fé (Romanos 1:17). Os israelitas que procuravam outra forma de justiça escandalizaram-se com Cristo e Sua mensagem (Mateus 15:12-14 cf. Isaías 8:14-16). Eles estavam tão apegados no conceito deturpado de que a verdadeira justiça podia ser obtida unicamente por meio de suas obras que, abertamente, se opuseram contra Jesus e finalmente O assassinaram (João 6:41-66; Marcos 11:15-18).

A culpa não era da "Pedra" (Jesus Cristo), mas da atitude daqueles que interpretaram erroneamente as Escrituras; cegos espiritualmente por si mesmos, eles rejeitaram os ensinos que conduziam a Jesus (Isaías 53:1-3 cf. João 5:39). Cristo crucificado era um tropeço para os judeus e loucura para os gentios, mas era poder e sabedoria de Deus para os que O aceitavam (I Coríntios 1:22-25). Jesus é Pedra de tropeço para os soberbos e desobedientes, mas, Pedra preciosa para os que guardam a lei objetivando justiça baseada na fé (Apocalipse 14:12 cf. I João 2:1-7, I João 5:1-4).

Somente pela fé em Jesus pode o homem atingir verdadeiramente as exigências que a lei de Deus requer. Os judeus exaltavam a lei e não exerciam a fé em Cristo, e hoje, inversamente, os cristãos dizem que exercem fé em Cristo enquanto anulam de suas vidas a lei praticada e ensinada por Ele.4 E, nos "bastidores", está Satanás, aplaudindo judeus e gentios que aceitam seus enganos e diretamente lhe auxilia a promover a separação entre "fé e obras", "graça e lei" (Apocalipse 12:17 cf. Apocalipse 14:12).

Romanos 10:4:
"Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê." (RA).
A palavra "fim" utilizada neste verso provém do substantivo grego "telos", que apresenta o significado de: propósito, objetivo, finalidade, meta. No caso em questão, ela não é empregada no sentido de: "cessar", "terminar" ou "abolir". A aplicação de "telos" indicando desígnio ou intenção é observada também em I Pedro 1:9:
"Obtendo o fim [telos] da vossa fé: a salvação da vossa alma." (RA).
"Pois que alcançais o fim [telos] da vossa fé, a saber, a salvação das vossas almas." (BJ).
"Pois vocês estão alcançando o alvo [telos] da sua fé, a salvação das suas almas." (NVI).
Obviamente que a salvação não anula a fé. Pedro demonstrou que a fé tem a finalidade (objetivo, intuito) de alcançar a salvação, assim como Paulo ensinou que a lei tem a finalidade de nos conduzir a Cristo para que possamos obter o perdão dos pecados, isto é, obter a graça através da fé (cf. Gálatas 3:24). Em Romanos 10:4, Paulo não afirma que a lei findou, pois ele mesmo disse que a fé em Cristo e a graça de Deus não invalidam a lei (Romanos 3:31; Romanos 6:14-15). Outro exemplo do uso da palavra "fim" (telos) com o sentido de propósito (intenção, objetivo), encontra-se em Romanos 6:22: "Mas agora que vocês foram libertados do pecado e se tornaram escravos de Deus, o fruto que colhem leva à santidade, e o seu fim [telos] é a vida eterna." (NVI).

Romanos 14:5:
"Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente." (RA).
Este verso é usado de maneira indevida para confrontar a lei de Deus através do quarto mandamento (Lucas 16:17 cf. Tiago 2:10-12); por ele, comumente se apresenta a alegação de que não existe importância na guarda sabática (Êxodo 20:8-11; Gênesis 2:1-3 cf. Hebreus 4:9-10), ou, que não há necessidade de reservar o sétimo dia da semana exclusivamente para os desígnios de Deus (Isaías 56:2; Isaías 58:13-14 cf. Atos 16:13).
 Quando Paulo mencionou em Romanos 14:5 que existem pessoas que julgam "iguais todos os dias", ele não estava dizendo que esses dias eram sem valor, mas incentivando que cada um examinasse cuidadosamente suas concepções a este respeito: "Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente".

O tema de Romanos capítulo 14 é o auxílio ao próximo sem promover julgamentos por suas crenças, e isso é exemplificado através de questões que envolvem "datas importantes" e "opções alimentares", tais como: dias de celebração(d) e jejuns(e) (Jeremias 36:6; Zacarias 8:19; Atos 27:9). Estas práticas causavam dúvidas e até mesmo desavenças, pois os cristãos judeus possuíam dias festivos e de consagração na qual os cristãos gentios poderiam optar em participar, assim como o próprio judeu tinha esta liberdade. E as recomendações de Paulo a este respeito era que cada cristão avaliasse por si mesmo o valor desses dias e, evitasse o desprezo e as críticas pelas decisões dos demais.

O verso de Romanos 14:6 auxilia a esclarecer este assunto ao dizer: "Aquele que considera um dia como especial(f), para o Senhor assim o faz. Aquele que come carne, come para o Senhor, pois dá graças a Deus; e aquele que se abstém, para o Senhor se abstém, e dá graças a Deus." (Romanos 14:6 NVI). E, associada a esta declaração, tem-se a seguinte exortação: "Assim, seja qual for o seu modo de crer a respeito destas coisas, que isso permaneça entre você e Deus. Feliz é o homem que não se condena naquilo que aprova." (Romanos 14:22 NVI).

Portanto, observa-se que Paulo não esta falando meramente de dias semanais. O que a quarta-feira, por exemplo, apresenta de especial para que um cristão devote-a ao longo do ano? O que a segunda-feira traz de importante para que alguém tenha que refletir e decidir algo sobre ela? O judaísmo (base do cristianismo) tinha ao longo do ano diversos dias especiais que eram optativos para um cristão estimá-los. E esta possibilidade de escolha é um dos pontos abordados em Romanos capítulo 14. Ademais, ao se considerar apenas os dias semanais, o único dia particular e especial para Deus é o Seu santo sábado - sétimo dia da semana (Êxodo 20:11; Isaías 58:13-14; Marcos 2:28), e Ele não atribuiu para este dia nada de optativo, assim como não deixou ao critério do homem a opção de obedecer ou não aos demais preceitos do Decálogo.

Cada cristão é responsável por si próprio perante Deus (Romanos 14:10-12). O que Ele espera é que cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente daquilo que acredita e segue, pois prestará contas por suas convicções (Eclesiastes 12:13-14; Hebreus 4:12-13). O cristão é orientado a proceder cuidadosamente de acordo com a luz que recebeu e entendeu, pois a sua fé deve está firmemente alicerçada em santa convicção (I Tessalonicenses 1:5). Entre os seguidores de Cristo nada deve ser feito pela força ou imposição. Sempre deve prevalecer um espírito de amor e tolerância compreensiva. Os que são mais fortes na fé devem suportar as fraquezas dos mais fracos (Romanos 15:1-2), seguindo o exemplo de Cristo que levou as fraquezas e debilidades de todos (cf. Isaías 53:4-6). Não há lugar para a crítica que emana de justiça própria e cujo ponto de vista e prática proporcione menosprezo.


Vídeos relacionados: A Lei e a Graça; Cremos na Graça
d. Acesse: Sábados Semanais e Anuais (em: "Sombra das coisas que haviam de vir").
e. Na Didaquê 8:1, documento apócrifo do século II, tem-se a seguinte advertência: "Vosso jejum não seja feito em comum com os hipócritas, porque eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana; mas vocês jejuais no quarto dia e no dia da preparação [sexta-feira]." Sabe-se que o jejum era praticado nas segundas e quintas-feiras pelos judeus, especialmente nas sete semanas que decorriam entre a Páscoa e Pentecostes, e nos dois meses que separavam o fim da "festa do Tabernáculo" ao início da "festa da Dedicação" (Levítico capítulo 23:33-36; João 10:22). Alguns cristãos jejuavam nas quartas e sextas-feiras para não serem confundidos com os judeus que jejuavam nas segundas e nas quintas-feiras. Fonte: CBASD, vol. 5, p. 826.
f. A expressão, "considera um dia como especial" de Romanos 14:6 (NVI), provém da expressão grega "phroneo ho hemera". O verbo grego "phroneo" significa: dispor entendimento; refletir os próprios conceitos; apoiar algo (público); considerar algo importante. E, "hemera", significa: um período de tempo formado por "um dia" e "uma noite"; intervalo de tempo entre o nascer e o pôr do sol.
1. Isaías capítulo 53; Romanos 5:1-2; I João 2:1-4; II Coríntios 7:10 cf. Salmos 32:1-5.
2. Romanos 6:22-23; I Coríntios 15:56; Tiago 1:15 cf. I João 3:4, Romanos 5:13, Romanos 7:7.
3. João 14:25-26 cf. Isaías 30:21; Hebreus 10:16-17; I João 5:1-5.
4. Mateus 5-17-20; Mateus 19:16-19; Lucas 16:17; João 14:21.


"A LEI DE DEUS AOS ROMANOS" - II




"Pois em Deus não há parcialidade. Todo aquele que pecar sem a lei, sem a lei também perecerá, e todo aquele que pecar sob a lei, pela lei será julgado. Porque não são os que ouvem a lei que são justos aos olhos de Deus; mas os que obedecem à lei, estes serão declarados justos. De fato, quando os gentios, que não têm a lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a lei; pois mostram que as exigências da lei estão gravadas em seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os." (Romanos 2:11-16 NVI).


Imparcialidade divina:

Deus não concederá privilégio a nenhum pecador durante o Seu julgamento, mas haverá perfeita imparcialidade em cada litígio. Cada caso será considerado em sua singularidade.1 Não importa a condição social, a qual etnia, tribo e nação o indivíduo pertença, todos serão julgados por suas obras e estas serão examinadas pelos princípios da lei.2

Durante os esclarecimentos sobre o juízo, Paulo rebateu a crença de que o povo de Israel era favorecido por sua eleição(a) como representante de Deus e, por ter sido auxiliado em diversas situações perigosas. Os judeus acreditavam também que podiam condenar os pecados de outras nações enquanto eles realizavam as mesmas transgressões e, que o conhecimento teórico da lei, associado a sua obediência formal, garantiria a salvação.3 Jesus condenou fortemente estas atitudes e tentou encaminhá-los naquilo que Deus realmente exigia: uma vida de obediência à lei alicerçada na fé, justiça, misericórdia e amor; mas recusaram.4 Enquanto a maioria dos judeus negligenciavam os princípios que conduziam à verdadeira obediência da lei, haviam não-judeus que eram zelosos tanto pela lei, quanto pelos seus fundamentos (Romanos 2:25-29); e este zelo era intensificado a medida que recebiam o evangelho.5

Fé e obras avaliadas no tribunal celestial
No juízo(b), as obras realizadas em verdadeira obediência à lei auxiliam o pecador arrependido a demonstrar sua submissão a Deus (Romanos 2:13; Ezequiel 33:12-16); elas ajudam a comprovar que a em Cristo foi realmente sincera: "Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta. Mas alguém dirá: 'Você tem fé; eu tenho obras.' Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras." (Tiago 2:17-18 NIV).

Enquanto a fé em Jesus conduz à graça de Deus (ao perdão), as obras realizadas em harmonia com a lei revelam que o pecador abandonou a sua antiga vida pecaminosa, que ele verdadeiramente aceitou a exigência: "Vai e não peques mais." (João 8:11 cf. I João 3:4). E Tiago reforça este ensino ao declarar: "Porquanto, Aquele que disse: 'Não adulterarás', também ordenou: 'Não matarás'. Ora, se não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei. Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade." (Tiago 2:11-12 RA cf. Tiago 1:25, Êxodo 20:3-17).

O texto de Romanos 2:13 ensina que os homens são julgados não pelo o que conhecem ou professam ser, mas por suas atitudes. Igualmente, são julgados os reais motivos que conduziram o proceder de cada indivíduo (Romanos 2:5-8; Hebreus 4:12-13). Paulo comparou duas situações que são avaliadas no juízo: aqueles que conhecem a vontade de Deus mas não estão dispostos a obedecê-la, com aqueles que não somente conhecem a vontade de Deus mas Lhe rendem sincera obediência. E esta obediência é desenvolvida unicamente com a fé alicerçada no amor (Mateus 22:36-40; Romanos 13:8-10); algo que muitos judeus não desenvolveram por causa da confiança que tinham em si mesmos (Romanos 9:30-33).

O julgamento de Deus avalia as oportunidades, os esclarecimento, as revelações; enfim, cada ajuda concedida ao pecador e os respectivos resultados desenvolvidos por ele. E "mesmo que você diga: 'Não sabíamos o que estava acontecendo!' Não o perceberia Aquele que pesa os corações? Não o saberia Aquele que preserva a sua vida? Não retribuirá Ele a cada um segundo o seu procedimento?" (Provérbios 24:12 NVI cf. Hebreus 4:12-13). "Será que a sua coragem suportará ou as suas mãos serão fortes para o que Eu vou fazer no dia em que Eu lhe der o devido tratamento? Eu, o Senhor, falei, e o farei." (Ezequiel 22:14 NVI).

A prática natural da lei
Deus avalia cada indivíduo de acordo com as oportunidades que lhe foi concedida para desenvolver a sua obediência à lei. Sobre esta questão, Paulo especifica que os judeus são julgados pelo conhecimento da lei que obtiveram diretamente de manuscritos (a lei na sua forma escrita), e que deveriam ter repassado as demais nações (Êxodo 19:5-6 cf. Levítico 24:22; Romanos 3:1-2). E os gentios são avaliados pelo conhecimento da lei que obtiveram por meio da criação e pela atuação do Espírito de Deus (a lei na sua forma não escrita, Romanos 2:14-15). De qualquer maneira, ambos os grupos são conduzidos ao julgamento independente da forma que conheceram a vontade de Deus, pois todos sem justificativa pecaram e estão sob condenação:
"Portanto, a ira de Deus é revelada dos céus contra toda impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade(c) pela injustiça(d), pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, Seu eterno poder e Sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não O glorificaram como Deus, nem Lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração insensato deles obscureceu-se." (Romanos 1:18-21 NVI cf. Gênesis 6:5-6, Romanos 3:9-12).
O salmista Davi confirma estas palavras dizendo: "Visto que não consideram os feitos do Senhor, nem as obras de Suas mãos, Ele os arrasará e jamais os deixará reerguer-se." (Salmos 28:5 NVI cf. Salmos 19:1, Isaías 5:11-12).

Portanto, a expressão "sem lei" de Romanos 2:12 refere-se aos gentios que não tiveram a lei revelada na sua forma escrita, mas a tinham implantada na consciência: "Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos." (Romanos 2:14 RA). O Espírito Santo, com o auxílio das obras de Deus, nunca deixou a consciência do homem totalmente a mercê de sua pecaminosidade, Ele sempre procurou direcionar o pensamento humano nos princípios da lei (Isaías 30:21; João 14:25-26; Romanos 8:5-9). Sem Deus e Seu Espírito, a consciência do homem promove apenas o mal:

"O Senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na Terra e que toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal." (Gênesis 6:5 NVI). "O Senhor conhece os pensamentos do homem, e sabe como são fúteis." (Salmos 94:11 NVI).
"Com efeito, é de dentro, do coração dos homens que saem as intenções malignas." (Marcos 7:21 BJ). "Conforme está escrito: Não há homem justo, não há um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus." (Romanos 3:10-11 BJ).
Portanto, ninguém é capaz de praticar e desenvolver ao longo da vida os princípios da lei, caso não seja guiado pelo Espírito de Deus. Paulo em Romanos 2:14 não afirmou que a consciência dos gentios era o seu guia, mas que eles tinham a "lei gravada em seus corações", ou seja, tinham os princípios da lei fixada em suas mentes. Assim, eles poderiam agir "por natureza [normalmente], de conformidade com a lei". E como mencionado, somente Deus mediante o Seu Espírito é capaz de executar esta obra no homem, nunca a sua consciência carnal:
"Quer você se volte para a direita quer para a esquerda, uma voz atrás de você lhe dirá: 'Este é o caminho; siga-o'." (Isaías 30:21 NVI).
"Tudo isso lhes tenho dito enquanto ainda estou com vocês. Mas o Conselheiro, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, lhes ensinará todas as coisas e lhes fará lembrar tudo o que Eu lhes disse." (João 14:25-26 NVI).
"O Espírito Santo também nos testifica a este respeito. Primeiro Ele diz: 'Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor. Porei as Minhas leis em seu coração e as escreverei em sua mente'. (...)" (Hebreus 10:15-17 NVI).
E, assim como na antiga aliança a lei foi consolidada na "mente e coração" daqueles que aceitaram obedecer sinceramente a Deus, isso ocorre também na nova aliança:
"Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: na sua mente imprimirei as Minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e Eu serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo. E não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor; porque todos Me conhecerão, desde o menor deles até ao maior." (Hebreus 8:10-11 RA cf. Jeremias 31:31-34, Isaías 8:16).
Os gentios que reconheceram a revelação de Deus nas obras da criação e responderam ao impulso divinamente implantado de fazer o bem, praticaram naturalmente as exigências da lei(e) (cf. Romanos 2:29). E Paulo refere-se especificamente a lei de Deus, chamada também de lei Natural ou lei Moral(f) que retém exclusivamente os Dez Mandamentos, pois era impossível aos gentios cumprir "por natureza" (normalmente) os diversos estatutos, preceitos, ordenanças e cerimônias determinadas na lei de Moisés(g). Porém, podiam cumprir "por natureza" (praticar naturalmente) com o auxílio do Espírito Santo, os princípios contidos nos mandamentos do Decálogo.

"A cada um segundo as suas obras":
Os que tiveram o privilégio de conhecer a lei de Deus em sua totalidade (através de manuscritos, isto é, na sua forma escrita) e, no entanto, pecaram espontaneamente contra uma expressão tão clara da vontade de Deus, devem receber um castigo maior em relação aqueles que tiveram menos instrução. A severidade do castigo é proporcional a culpa, e o nível da culpa corresponde às oportunidades. Não deve haver confusão entre a imparcialidade do julgamento com a intensidade ou grau de punição que cada pecador condenado receberá.6 O juízo de Deus sobrevirá a todos e devidamente regulamentado pela Sua lei, mas o rigor punitivo de maior intensidade recairá sobre aqueles que escolheram transgredi-la mesmo sendo conhecedores de suas exigências.

E de acordo com a Bíblia, pecado sempre foi e sempre será a transgressão da lei de Deus, independente da situação apresentada.7 Portanto, ambos os grupos de pecadores impenitentes (judeus e gentios) perecerão por seus pecados não perdoados (Romanos 6:23; I João 2:1-4; Isaías 8:20). A misericórdia descrita em Isaías 55:7 não será exercida nestes casos, mas, naqueles onde a fé em Jesus se fez presente; nos casos em que o pecador verdadeiramente se arrependeu e buscou seguir a Cristo.

 Isso pode ser exemplificado através do comportamento do jovem rico que conhecia a lei mas não praticava seus ensinos e, preferiu recusar o convite de Jesus (atitude que impossibilitou-o de obedecer verdadeiramente a lei e de receber a misericórdia que o livraria da punição pelos seus pecados, Mateus 19:16-22). Exemplo oposto encontra-se no comportamento do ex-criminoso crucificado ao lado de Jesus. Independentemente dos motivos que o conduzira a estar ali, ele reconheceu sua condição pecaminosa, se arrependeu e decidiu a partir daquele momento não abandonar a Cristo; sua fé, firme e santa, tinha um único objetivo, ter a Jesus como Mestre e Salvador (Lucas 23:35-43). Neste caso, a misericórdia de Deus se fez presente, "a graça transbordou" para salvar aquele pecador sinceramente arrependido (Romanos 5:20-21; II Coríntios 7:10).

Considerações Finais:
O homem tem a capacidade de julgar seus pensamentos, palavras e ações. No entanto, a sua consciência desprovida de orientação divina é demasiadamente vacilante (I Coríntios 8:7 cf. Jó 32:8), e pode cauterizar-se no erro - principalmente quando submetida intensamente a ideologias e praticas maléficas (I Timóteo 4:2). Inversamente, a consciência pode está esclarecida pela verdade que recebeu e, procede de acordo com a vontade de Deus (II Coríntios 1:12). Paulo demonstrou que a atuação da consciência dos gentios era uma evidência de que eles tinham algum direcionamento da vontade de Deus expressa em Sua lei (Romanos 2:14-15), apesar de não terem tido as oportunidades de conhecê-la como os judeus tiveram (Romanos 2:17-18).

Deus tem um registro exato de cada ato explícito ou secreto do pecador (Daniel 7:9-10; I Coríntios 4:5; Apocalipse 20:12), deste modo, Ele pode julgar devidamente cada pessoa. O principal ensino de Romanos capítulo 2 está no verso 16, onde apresenta-se o judeu favorecido com a revelação da lei, e que se sentia inclinado a menosprezar o gentio, julgando-o indigno de salvação. Mas unicamente Deus, que pode ler o íntimo da vida, anunciará o veredito.

A prontidão para obedecer a Deus mediante a consciência orientada pelo Espírito Santo (João 14:26, Hebreus 10:15-16), é algo que só Deus conhece plenamente. A fé, justiça, misericórdia e amor, que constituem a essência da verdadeira observância da lei, são as qualidades de caráter que Deus espera encontrar em judeus e gentios, e no juízo são rigorosamente avaliadas(h).


a. Esta eleição (escolha) não foi imposta pois os israelitas na ocasião tiveram a opção de negá-la (Êxodo 19:1-8).
c. "As obras de Suas mãos são verdade e justiça; fiéis, todos os Seus preceitos." (Salmos 117:7 RA cf. Êxodo 31:18). "A Tua justiça é justiça eterna, e a Tua lei é a própria verdade." (Salmos 119:142 RA).
d. "A Terra está contaminada pelos seus habitantes, porque desobedeceram às leis, violaram os decretos e quebraram a aliança eterna." (Isaías 24:5 NVI cf. Hebreus 10:15-17). "Toda injustiça é pecado (...)" (I João 5:17 RA). "Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei." (I João 3:4 RA).
1. Deuteronômio 10:17-18; II Crônicas 19:7; Jó 34:10-19; Romanos 3:28-31.
2. Eclesiastes 12:13-14; Isaías 24:4-6; Mateus 16:27; Tiago 2:8-13.
3. Isaías 1:4; Jeremias 7:8-10; Ezequiel 22:7-8 e 26; Daniel 9:11; Atos 15:1; Romanos 2:1-3; Romanos 2:17-24.
4. João 5:39-45 cf. Isaías 53:1-3; Jeremias 6:16, Romanos 9:30-33; Mateus 23:23; João 15:10; Tiago 2:26.
5. Atos 10:45-47; Atos 11:1; Atos 13:46-48; Atos 15:3.
6. Ezequiel 5:27; Mateus 11:21-24; Mateus 12:41-42; Lucas 12:45-48.
7. Isaías 24:4-6; I João 3:4; Romanos 5:12-13; Romanos 7:7. Acesse: A Origem do Mal.

"OS MINISTÉRIOS DA LEI DE DEUS"


“E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente, como não será de maior glória o ministério do Espírito!” (II Coríntios 3:7-8)

MINISTÉRIO DE MORTE:
Lendo atentamente II Coríntios capítulo 3 percebe-se que Paulo fala de “dois ministérios” e não de “lei“. O termo lei não é empregado e isso é fundamental para a análise dos versos 7 e 8 desse capítulo. Ministério, ministração ou administração não é sinônimo de lei. Uma coisa é ministrar uma lei, outra é a lei em si mesma. A ministração ou ministério refere-se aos meios pelos quais a lei é ensinada, aplicada e vivida.
O “ministério da morte”, também chamado por Paulo de ministério da condenação (verso 9) diz respeito ao antigo método em que a Lei de Deus era administrada. Em II Coríntios capítulo 3 é dito como o antigo ou velho concerto era gerenciado; concerto este que, pela incapacidade dos israelitas e pelo cumprimento das profecias foi substituído.1
Paulo contrastando o velho com o novo concerto chama este último de “ministério do Espírito” e “ministério da justiça”. Ele ensinou que Jesus e o Seu novo ministério são a glória resplandecente, em contraste com a glória do velho ministério que se tornara empalidecida e finalmente desaparecera com o sacrifício na cruz do Calvário: “Porquanto, na verdade, o que, outrora, foi glorificado, neste respeito, já não resplandece, diante da atual sobreexcelente glória.” (II Coríntios 3:10 cf Hebreus 3:1-3).
Muitos judeus, os quais antes de aceitarem a Cristo como Salvador confiavam, obviamente, que a glória do Sinai e o ministério exercido pelos levitas era a última palavra em salvação. Eles entenderam que aglória e o ministério de Cristo da nova aliança além de superar, substituiu a antiga (Hebreus capítulo 5 e 8cf II Coríntios 3:14-16).
Por simples figura de linguagem, o antigo ministério da lei ou a maneira como esta lei era administrada no velho concerto é denominado de “ministério da morte”. Exemplificando pela própria Bíblia a figura de linguagem utilizada por Paulo: Nos dias de Eliseu, certa vez, os filhos dos profetas ajuntaram-se em torno da “panela grande” em que se cozeu colocíntidas (ervas tóxicas) e então clamaram aos que as comiam: “Homem de Deus, há morte na panela” (II Reis 4:38-40). Em linguagem exata disseram que havia algo no interior da panela que iria causar a morte, mas, trocando a causa pelo efeito, alertaram daquela forma. Outro exemplo é Isaías 28:18 que diz: “A vossa aliança com a morte será anulada…”. Obviamente que ninguém faz aliança com a morte, isso seria bizarro.

GRAVADO COM LETRAS EM PEDRAS:
Gravado em pedras é uma clara referência às duas tábuas onde foram escritos os Dez Mandamentos.2 O ministério da antiga aliança tinha sua legitimidade administrativa fundamentada nestes mandamentos, ou seja, sem eles para: Estabelecer os princípios morais e éticos, revelar o pecado e servir de base para outros preceitos, o ministério perdia seu propósito. Por isso a ênfase “ministério da morte, gravado com letras em pedras”, pois, os objetivos desse ministério dependiam diretamente dos mandamentos contidos nas tábuas de pedra.
O verso de II Coríntios 3:7 não diz que o Decálogo era o ministério da morte. O próprio Paulo esclareceu esse ponto ao afirma que a lei que o contém é “santa, e o mandamento santo, justo e bom”, que ela não pode ser substituída pela fé e nem pela graça (Romanos 7:12Romanos 3:31Romanos 6:15), e arremata dizendo: “acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum!” (Romanos 7:13-14 cf Romanos 8:1-14).
Ensinou ainda que os mandamentos do Decálogo são baseados no amor: “… não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Romanos 13:8-10); e enfatizou que o homem justo perante Deus os obedecem (Romanos 2:13 cf Tiago 1:25Tiago 2:8-13).
Os Dez Mandamentos, escritos “com letras em pedras”, quando transgredidos denunciam o pecado, porém, eles não orientam quanto ao devido julgamento e punição a serem aplicados. No antigo concerto, as normas do velho ministério eram as responsáveis nesse aspecto, e elas estavam descritas no Livro da Lei(a), não nas tábuas de pedra. Paulo ao dizer: “tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz” (Colossenses 2:14), chamava atenção tanto pela incapacidade judaica de honrar o antigo concerto (o que gerou inimizade contra Deus), quanto pelos atos punitivos aplicados nesse ministério.
Na antiga aliança os israelitas com o passar do tempo esqueceram os reais motivos do ministério entregue à eles3, sendo os principais: Ter a Deus como o centro de suas vidas, reconhecer a Cristo como único meio de salvação e conduzir outras nações a Ele. E, apesar desse fracasso, o SENHOR manteve esses propósitos na nova aliança (regida por um novo ministério), porém, sem os israelitas como Seus representantes (Isaías 42:5-7Mateus 21:42-46Atos 18:6).
Em II Coríntios 3:3 é enfatizado a maneira como Deus conduz o Decálogo na nova aliança: “… escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é,nos corações.” (cf Jeremias 31:31-36Hebreus 10:16-18).
Considerar que as tábuas de pedra significavam ministério de morte, surgirá as seguintes indagações: (1). Como pode Deus conceder a Seu povo reunido solenemente, no Monte Sinai, uma lei que representa morte? (2). Que Deus é este que trata de forma discriminada a Seu povo, reservando uma lei de amor e justiça no novo concerto, enquanto os que viveram sob o velho concerto recebem uma que reflete morte?
Não há base bíblica para a afirmativa de que “ministério da morte” seja os mandamentos das “tábuas de pedra”. Esse errôneo ensinamento anula a própria base da nova aliança e atribui um caráter discriminador à Deus. Deixando-O, ainda, desprovido de apontar e julgar o pecado.4

A GLÓRIA NO ROSTO DE MOISÉS:
“Ao descer do monte Sinai com as duas tábuas da aliança nas mãos, Moisés não sabia que o seu rosto resplandecia por ter conversado com o SENHOR.” O próprio Moisés estava inconsciente da glória que irradiava da sua face, e não entendia porque os filhos de Israel fugiam dele quando se aproximava. Chamou-os para junto de si, mas eles não ousavam olhar para aquela face glorificada. Quando Moisés percebeu que o povo não lhes podia mirar o rosto, o cobriu com um véu (Êxodo 34:28-35).
A glória do rosto de Moisés era muitíssimo penosa para os filhos de Israel por causa de suas transgressões a santa Lei de Deus. Isto é uma ilustração dos sentimentos dos que violam a lei divina; desejam remover de sua presença “a luz penetrante” que, é um terror para quem a transgride, ao passo que para os leais ela se afigura santa, justa e boa (Romanos 7:12-25Romanos 8:1-8I João 2:1-4). Apenas os que têm justa consideração para com a Lei de Deus podem estimar devidamente a expiação de Cristo, tornada necessária pela violação dela.
Em II Coríntios 3:7-11 se estabelece o contraste entre a glória que permanece e a glória que se desvanece, entre o mais glorioso e o menos glorioso, entre o novo e o antigo. Em ambos os casos a glória é decorrente de Cristo. No novo concerto há uma plena revelação da glória de Deus pela pessoa real de Cristo que veio a este mundo (João 1:14), e cuja glória permanece para sempre. No antigo concerto, Cristo só estava nos símbolos que proporcionava o cerimonialismo mosaico, mas a glória que se refletia era a dEle. O Redentor estava oculto por trás de um véu de emblemas e liturgias; mas o véu foi removido com a chegada da grande Realidade (Hebreus 10:19-22Daniel 9:27 cf Mateus 27:51).
Alguns lendo superficialmente II Coríntios 3:7 chegam à conclusão de que os Dez Mandamentos escritos nas tábuas de pedra eram que “desvaneciam“; mas o que claramente se diz neste verso é que a glória fugaz refletida no rosto de Moisés era que perecia (versos 7-8 cf verso 11). A glória não estava nas tábuas de pedra. O reflexo da glória no rosto de Moisés se desvaneceu, mas a Lei de Deus (Decálogo) gravada com letras em pedra permanece em vigência. O antigo ministério era o que tinha que desaparecer, não a Lei de Deus.5
A glória transitória ou passageira do rosto de Moisés foi o resultado de sua comunhão com Deus no monte Sinai. Demonstrava aos que a viam, que ele, tinha estado na presença divina; era um depoimento silencioso de sua missão como representante de Deus e da obrigação do povo de ajustar-se a seus preceitos. Essa glória confirmava a origem divina dos mandamentos da Lei de Deus, e sua vigência obrigatória a todos os homens (Eclesiastes 12:13).
Bem como o rosto de Moisés refletia a glória de Deus, assim também os serviços do santuário terrestre orientados pelas ordenanças cerimoniais refletiam a presença de Cristo. O propósito de Deus era que o pecador nos dias da antiga aliança entendessem e sentissem a presença salvadora de Cristo na glória refletida através do sistema litúrgico do santuário terrestre (regido pelo velho ministério). Mas quando Cristo veio, os homens tiveram o privilégio de contemplar a glória da Realidade (Hebreus 9:22-28), e já não precisaram mais da glória menor refletida pelos símbolos (II Coríntios 3:10).

CONSIDERAÇÕES FINAIS:
O fracasso da nação judia em ver a Cristo nos símbolos do sistema cerimonial caracteriza a história hebreia desde o Sinai até a Sua vinda (Daniel 9:25-26). A cegueira de Israel o conduziu finalmente a recusar e crucificá-Lo (Isaías capítulo 53II Coríntios 3:15-16). De maneira que a expressão “ministério da morte” caracteriza adequadamente o período do sistema judeu, apesar de muitas exceções notáveis. Com a chegada da glória maior revelada em Cristo extinguiu-se a glória menor refletida pelo sistema litúrgico do velho ministério.
Um ministério baseado somente na letra, sem o Seu Legislador (Jesus), resulta em morte para os seus transgressores; mas um ministério de lei, baseado na justiça de Cristo através da ação do Espírito Santo no coração do pecador, resulta em vida.6 O velho ministério foi letra morta porque Israel deixou de cumprir a sua parte na antiga aliança, pois, não estava ligado ao Espírito de Deus. Então o novo ministério de Jesus veio reaver o Espírito que vivifica. Por isso Paulo chama o “novo ministério” de “ministério do Espírito” (II Coríntios 3:8) e “ministério da justiça” (II Coríntios 3:9 cf Romanos 2:13).
O tema abordado em II Coríntios capítulo 3 faz um comparativo entre o menor e o maior, apresentando uma série de contrastes: a letra e o Espírito, a glória que se desvanece e a glória que permanece, condenação e justificação, Moisés e Cristo. Em cada caso, o segundo termo é infinitamente superior ao primeiro.
Na época em que Paulo escreveu as Epístolas aos Coríntios (52-54 d.C.), os judeus insistiam em praticar o ritual mosaico abolido por Jesus ao morrer no Calvário. Somente no ano 70 com a destruição do Templo pelos romanos é que cessou definitivamente para os judeus o que fora transitório. Paulo se refere às duas tábuas de pedra (Lei de Deus) porque elas eram o fundamento legislativo que proporcionavam objetivos e vigência para as demais leis que regiam o antigo ministério sacerdotal. Sem os preceitos e princípios básicos dos mandamentos das tábuas de pedra, o velho ministério não tinha motivos para existir, assim como o novo ministério sem eles torna-se sem propósito. É através deles que o julgamento e a reivindicação da justiça de Deus são realizados.
A abordagem geral de II Coríntios capítulo 3 é explicar as diferenças entre os dois ministérios (velho e novo) e suas respectivas vigências, e, refutar os judaizantes de Corinto que queriam impor a liturgia mosaica no cristianismo, assim como ocorreu nas igrejas de Galácia e Colossos.7 Eles consideravam que os rituais de sacrifícios da velha aliança eram essenciais para a salvação e, evidentemente, Paulo caracterizou esse sistema litúrgico de ministério da morte. Era inerte. Judeus e gentios deviam encontrar vida em Cristo, pois só nEle há salvação. Ele foi sem dúvida o Salvador de Israel durante todo o tempo da antiga aliança como O é agora na nova aliança.

1. Isaías 1:1-18; Jeremias capítulo 11; Oséias capítulo 4.
2. Êxodo 31:18; Êxodo 32:15-16; Êxodo 34:1-4; Êxodo 34:28-29; Deuteronômio 4:12-13.
3. Êxodo 19:5-6; Romanos 3:2 cf Gênesis 18:19; Gênesis 26:4-5.
4. I João 3:4; Romanos 4:14-15; Romanos 7:7; Tiago 2:8-12.
5. Mateus 5:17-19; Lucas 16:17; Romanos 3:31; Romanos 6:15; Tiago 2:8-13.
7. II Coríntios 11:12-24; Gálatas capítulo 2; Colossenses capítulo 2.